Quando a Associação de Violão do Rio decidiu realizar o nosso primeiro concurso virtual em 2021, recebemos uma sugestão inesperada do luthier mais emblemático de violões da história do Brasil: Sérgio Abreu (1948-2023).
Em comunicação com Nicolas de Souza Barros, ele sugeriu que a AV-Rio escolhesse Rogério dos Santos Filho para construir os violões que os ganhadores dos nossos concursos receberiam. Sérgio também preconizou que este luthier jovem, que na época ainda não tinha concluído o seu Bacharelado em Engenharia Florestal na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, seria um dos construtores brasileiros mais importantes de décadas futuras. Atualmente, Rogério está iniciando o seu mestrado em Engenharia Florestal na mesma instituição, onde elaborará a tese “O tratamento térmico de quatro espécies de madeira usadas em tampas acústicas de cordofones dedilhados e com arcos”.
Seguem os depoimentos dos ganhadores dos dois concursos realizados em 2021 e 2022: Nicolas Porto Silva e Jean Lopes Baiano.
Lembramos também que as inscrições para o III CNVV AV-RIO vão de 01 até 21 de abril, e que entre as premiações do certame, o candidato que receber o 1º Lugar ganhará um violão de Rogério dos Santos Filho com tampa de abeto envelhecido e fundos e laterais de Jacarandá baiano, com valor estimado de R$ 13.000.
A Equipe da AV-Rio
Depoimento de Nicolas Porto Silva, ganhador do II CNVV AV-Rio – 2021
“Recebi, como parte da premiação do I CNVV, o maravilhoso violão construído por Rogério Santos Filho em meados de janeiro de 2021. Minhas impressões iniciais trataram de confirmar as expectativas acerca do que busco em um instrumento: boa projeção, gama de cores e equilíbrio. Destaco, também, a ótima resposta aos estímulos dinâmicos.
Como todo bom violão recém construído, a margem de evolução era sentida claramente conforme o passar do tempo, além de novas possibilidades e descobertas irem aparecendo à medida em que se conhece mais o instrumento. A tocabilidade foi um ponto em que senti uma excelente evolução num período curto de tempo.
Em obras como, por exemplo, as 4 Peças Breves, de Frank Martin, onde é necessário um bom sustain para que a ressonância pedida na obra faça sentido, o violão de Rogério se mostrou surpreendente neste quesito e até superior ao outro instrumento que possuía como parâmetro.
Também pude perceber um padrão nas características citadas quando toquei um outros instrumentos seus, o que denota um excelente resultado obtido através da ratificação de sua linha de construção.”
Nicolas Porto Silva
Depoimento de Jean Lopes Baiano, ganhador do II CNVV AV-Rio – 2022
“Meus e minhas colegas de profissão mais próximos(as) de mim sabem que sempre fui um defensor do tampo de cedro, já que minhas poucas experiências com o abeto não foram as melhores. Eis que venci o II CNVV da AV-Rio e fui agraciado com um ótimo violão do jovem e promissor luthier Rogério Santos Filho. Mas, sabendo que o violão era de abeto (e eu super fã de cedro), não imaginava o que esperar. Mas a surpresa que tive ao tocar o violão foi maravilhosa. Um ótimo volume de som, equilíbrio de timbres realmente surpreendente (em geral era minha resistência ao abeto) e resposta rápida. Em resumo, encontrei nesse violão muita coisa que o cedro proporciona, mas com aquele ‘brilho’ característico que só o abeto tem. É a combinação perfeita pra quem sempre está procurando por coisas novas.
Logo criei uma relação afetiva muito forte com o violão, já que realizei o Concurso Souza Lima de 2021 com esse violão, ainda com poucos dias de uso, e conquistei o segundo lugar. Meu retorno aos palcos depois de 3 anos sem concertos solo foi feito com esse instrumento. Recentemente gravei um vídeo com este e outro instrumento, de cedro, (feito pela Pollyanna Vincenzi) que comprei uns meses antes de participar do concurso, aproveitando as possibilidades que a combinação de ambos os instrumentos me trouxeram. Mais do que as qualidades sonoras que me surpreenderam (e até hoje sigo descobrindo algo novo) e me fizeram mudar drasticamente minha opinião sobre o abeto, o violão do Rogério me abriu muitas possibilidades para o estudo e para a composição. Muitas coisas que eu tocava ganharam novas cores e o repertório novo ficou ainda mais divertido de estudar. Vale ressaltar outro ponto importante (ainda mais pra mim que enfrentei dores na mão esquerda ainda durante o concurso) que é o conforto pra tocar esse violão. A menos que seja uma peça cheia de pestanas, é muito difícil cansar a mão. Por fim, sou grato por ter sido privilegiado com um instrumento de tão alta qualidade e que ainda tem muito a surpreender. Acredito que esse instrumento foi uma porta de entrada para um novo estágio em minha música e espero honrar da melhor forma possível a chegada do violão às minhas mãos, fazendo desse instrumento musical um instrumento de expressão de vida.”
Jean Lopes Baiano